QUANDO ÉRAMOS AMIGOS E A GUERRA RADICAL DOS GÊNEROS

sexta-feira, setembro 29, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments



Prefiro ser um homem de paradoxos que um homem de preconceitos. - Jean-Jacques Rousseau
Provavelmente este será o artigo mais difícil que já escrevi até o momento (fora outro sobre pedofilia que ainda estou rascunhando). Antigamente, muito antigamente, não existia um "funil de conversão", ou seja, aquele pensamento estabelecido de que você precisa ser enquadrado em uma categoria quando se expressa ou opina sobre um assunto. A sociedade contemporânea se tornou um universo de tribos muito especificas, defensivas e defensoras raivosas de suas bandeiras e qualquer "forasteiro" que se aventure a criar um dialogo pela busca do conhecimento, pode terminar na fogueira (sempre acesa) dos haters e radicais. A coisa tá feia!

Nada prejudica mais o ser humano do que o próprio ser humano. Somos impotentes diante da nossa própria arrogância de certezas e fundamentos. Estes fundamentos podem ser sociais, religiosos, educacionais, éticos e morais. E nenhum deles vai ser absoluto ou perfeito porque são como argila nas mãos de quem os molda. Assim acontece com o racismo, o preconceito religioso, o machismo, o feminismo e atualmente com o transgênero. E tudo que se molda, muda sua forma essencial.

Outro dia, recebi a "etiqueta" de "homem branco heterossexual" por parte de uma jovem leitora do meu Facebook. Nunca havia pensado em mim mesmo "nessa condição". Sim sou branco, filho de pai baiano e mãe com descendência italiana. Por parte de pai, tenho ancestrais negros, portugueses e índios. Em resumo, a minha condição de "homem branco heterossexual" seria o suficiente para me excluir de qualquer opinião sobre "outras tribos". Algo parecido como "se você não tem filhos ou não é casado, não pode falar sobre isso". Certo, vamos falar um pouco sobre informação e referências, que tal?

A EDUCAÇÃO COMO REFERÊNCIA DE GÊNERO


Preconceito é opinião sem conhecimento.- Voltaire
Uma questão básica na defesa de qualquer assunto é que um radical já foi um libertador mas um libertador nunca será um radical. O maior problema com os radicais é o de que eles são absorvidos por seus próprios complexos e traumas pessoais. Nem todo mundo consegue ter a clareza de um Martin Luther King, um Gandhi ou uma Madre Tereza. Se a dor de um é também a dor do outro, o radical transforma tudo em sua própria dor.

O que começa como empatia e um sentimento real de envolvimento, termina como uma cruzada raivosa e vingativa contra qualquer um que não concorde com os seus argumentos. O radical fecha-se para qualquer outro canal de comunicação que não seja o dele. Alimentado por uma base de iguais (que pensam somente como ele), o radical apenas consegue de volta o mesmo ódio que planta. É um ciclo vicioso.

Para qualquer assunto mais complexo, minha experiência como redator e pesquisador me leva para bem longe do senso comum. O senso comum pode ser visto como aquele resumo do livro que você tem preguiça de ler para prova. Não existe uma narrativa, apenas tópicos. Não existe aprofundamento, apenas pontuações. O senso comum não educa e, muito raramente, informa. A grande maioria dos radicais é formada por setenta por cento de raivas complexas e uns trinta por cento de senso comum.

O modelo fica pior ainda porque estamos mergulhados no politicamente correto, o lado mais paternalista e ignorante do senso comum. Este é um cenário perfeito para polarizar ainda mais o que já é difícil de ser debatido, conversado e, principalmente, compreendido naquilo que realmente representa: uma mudança total de paradigmas.

O PARADIGMA TRANSGÊNERO


É mais difícil quebrar um preconceito do que um átomo. - Albert Einstein

Um paradigma é, em resumo, um modelo que se apresenta para modificar, justificar ou transformar outro modelo já existente. O mundo já enfrentou vários paradigmas como o voto feminino, o fim da escravidão, a criação da internet, etc. Um paradigma pode ser evolutivo ou involutivo (como no caso óbvio do Nazismo). Todo paradigma ou mudança considerada radical para o modelo estabelecido, precisa de tempo para ser aceito ou, pelo menos, tolerado. Estamos falando de décadas e não de anos. Mesmo assim, não é esperado que esta mudança seja uniforme e aceita por todos. 

Uma breve história: em uma ilha do Japão, pescadores que viviam somente de caça à baleia foram proibidos pelos direitos ambientais de continuar seu trabalho. O que eles fizeram? Começaram a pescar clandestinamente. Estamos falando de homens entre 16 e 70 anos que aprenderam seu oficio com seus bisavós, avós e pais. Eles não sabiam fazer outra coisa. O vilarejo sobrevivia exclusivamente da comercialização da carne, óleo e demais produtos derivados da baleia. Não houve treinamento, educação ou qualquer atitude para que eles se adaptassem as mudanças impostas. Sem emprego, os jovens começaram a beber e os mais velhos entraram em depressão. Neste momento, o futuro do vilarejo é incerto.

Agora, eu realmente gostaria que você tentasse esquecer, por um momento, qualquer questão mais complicada a respeito da transexualidade. Pense apenas no trabalhador comum, de educação precária e salário baixo. Pense no pai ou mãe de uma comunidade com quatro ou seis filhos. Quanto tempo você acredita que ele vai parar para pensar na complicada questão de gêneros?

MÍDIA E A TRANSEXUALIDADE COMO ESPETÁCULO


Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver
Super-Homem - Gilberto Gil
A história acima serve para exemplificar que, não importa o quão bom ou ruim possa ser uma mudança, ela precisa ser assimilada primeiro. Ela precisa ser maior do que a sua raiva ou complexo que encontrou uma base de transferência ideal para se manifestar. Uma violência contra um grupo nunca vai justificar a violência contra outro grupo. É aquela frase de todo mundo ficando cego e banguela pelo "olho por olho, dente por dente".

Existem muitas pessoas realmente inteligentes e interessadas em educar sobre preconceito, racismo, genofobia (medo do sexo) e xenofobia (medo de estrangeiros). Mas existe um número muito maior que abusa de clichês, senso comum e do politicamente correto para garantir que a controvérsia continue e também lucrar com isso. Sim, estou falando com vocês, mídias sociais e haters de plantão.

É preciso entender que é muito mais fácil para as gerações Y (1991 à 2000), Z (1990 à 2010) e a futura Alfa (após 2010), assimilarem estes paradigmas. É preciso entender também que ainda existe muita ignorância e falta de informação a este respeito. Estamos falando de um mundo onde ainda existem novos racistas nascendo, novos radicais e novos transgêneros. E que os governos são liderados por homens e mulheres de gerações anteriores e bem diferentes. Nenhuma transformação é fácil.

Para piorar, existe um cenário terrível de exploração nas mídias sobre o tema. Se você tem mais de 16 anos, desconfie desses programas e celebridades que "abraçam todas as bandeiras" como em um Conto de Fadas. Não é real e serve apenas para gerar mais curtidas e audiência. Procure se informar melhor, ok?

Este é um assunto onde você vai encontrar radicais inteligentes, ignorantes radicais e libertadores ingênuos. E no meio de tudo isso, uma grande massa social que está mais preocupada com o pão de cada dia e não deseja compartilhar seus pensamento (radicais ou não) com você. Não existe uma utopia de aceitação plena, neste caso. Lide com isso. 

NO QUE VOCÊ VAI SE TRANSFORMAR? 


Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de ninguém. Liberdade é também um conjunto de ideias liberais e dos direitos de cada cidadão. - Dicionário
Dentro do possível, tentei evitar os clichês que sempre aparecem em artigos assim. Se você deseja um confronto objetivo e bem estruturado de ideias, é preciso se informar. Se você se alimenta somente de conteúdos radicais e livros que tratam apenas daquilo que sustenta o seu ponto de vista ou se pontua pela dor, pelo politicamente correto e no senso comum..."eu não sou o seu branco" para conversar. Não mesmo.

Minha amiga se esqueceu de que podemos ser mais do que um "homem branco heterossexual" e que, ao enfrentarmos monstros, temos que tomar cuidado para não nos tornarmos monstros também. De nada adianta trocar um preconceito que te fere, por outro que vai ferir o próximo. 

Pra finalizar, o título desse artigo se refere aos contatos humanos de valor. Aqueles que não enxergam cor, raça ou gênero e que permitem pensamentos diversos para reflexão. Não seria assim que as grandes amizades se formam? Até a próxima!!!

CURTA E COMPARTILHE O AGE COM SEUS AMIGOS!!!

Obs.: Fazendo uma pesquisa para este artigo, descobri o TSER (Trans Student Educational Resources), uma organização jovem que educa e fornece uma enorme quantidade de material sobre o tema para consulta. Se você realmente deseja informação de valor, vai conferir!

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