PORRADA NELES E A MORTE DOS HOMENS JURÁSSICOS

sábado, novembro 11, 2017 Marcos Henrique de Oliveira 0 Comments


Somos feitos de carne, mas temos de viver como se fôssemos de ferro. - Sigmund Freud
O momento não está nada bom para os homens jurássicos. Você conhece, aqueles que permanecem inflexíveis diante das mudanças sociais e da evolução em geral. Os homens sempre estiveram em crise, esse é um fato histórico. Conciliar uma identidade herdada por eras de combate para defender a autoestima e as comparações entre si mesmos, quem é o melhor, o mais potente, o macho alfa de sua tribo e prole, ferraram a cabeça do masculino e continuam ferrando.

É preciso lembrar que, no sentido biológico, o homem é apenas um animal que pensa (algumas vezes) e no resto do tempo é dominado pelos seus instintos primitivos de sobrevivência, copulação, etc. Passe uma tarde assistindo o canal da National Geographic que você vai entender. Homem jurássico é osso mesmo. E duro de matar.

Mas as desculpas acabaram ou nem importam mais. Na verdade, só servem para irritar ainda mais o "outro lado" que esses primitivos chamam de "mulheres". E eu não estou defendendo lados, mulheres também são bem complicadas. E com o acréscimo do politicamente correto, do empoderamento, da questão do gênero e outras tendências que ainda estão na fase do experimento na sociedade contemporânea, a coisa ficou preta. A única escolha dos homens jurássicos é a mesma de seus antecessores: evoluir ou morrer. Mas evoluir para o quê?

ANIMAIS GUIADOS POR INSTINTOS


Quando um pai, ausente durante todo o dia, volta para casa, seus filhos recebem dele apenas o seu temperamento, não educação. - Robert Bly
Homens jurássicos, para ser sincero, não tem idade. Eles podem ser até adolescentes. Com o passar dos anos, a educação das crianças masculinas foi perdendo a sua ancestralidade pedagógica. Pais e avós não ensinavam mais uma identidade masculina para seus filhos. A vida não é um filme da Disney como Rei Leão ou aqueles contos africanos e indígenas onde a sabedoria era compartilhada ao lado de uma fogueira. Na vida real, os pais passavam a maior parte do tempo fora de casa (trabalhando ou não) ou nem estavam presentes.

Até o século XVIII, não era possível encontrar um modelo de sexualidade humana conforme entendemos hoje. Foucault (1986) vai ressaltar que o próprio termo sexualidade é um termo surgido no século XIX, portanto pertencente às sociedades modernas e pós-modernas. - Masculinidade na história: a construção cultural da diferença entre os sexos - Sergio Gomes da Silva (leia a tese completa aqui: http://tinyurl.com/y7er334d)
Os Homens jurássicos da atualidade são aqueles que nasceram lá no começo dos anos 50, na época do pós-guerra e da renovação do mundo pelo trabalho duro e a emergente nova era industrial. São caracterizados por uma educação precária ou inexistente, conservadores e melancolicamente orgulhosos de si mesmos. Suas masculinidade, via de regra, é estabelecida pela sua potencia sexual, força de trabalho e controle de sua prole, parentes e amigos. Se consideram sempre a representação única do macho alfa.

Suas conversas variam entre grandes feitos do passado ou as angustias de uma vida precária e limitada que foi conquistada apenas por eles mesmos. Esposa e filhos são vistos como "troféus" dessa vitória pessoal e exemplos de sua força. Podem ser calados, intimistas, arrogantes e reacionários e, ao mesmo tempo, solidários com aqueles que consideram iguais, muito religiosos e defensores hipócritas da tríade "tradição, família e propriedade". Você sabe, aqueles que amam a mãe mas traem a esposa com várias amantes.

Sentiu o tamanho da encrenca?

O "NOVO" HOMEM HETEROSSEXUAL SENSÍVEL 

O amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são. - Friedrich Nietzsche
A questão do homem como um indivíduo cartesiano (que pensa e age sempre da mesma forma) sempre foi criticada pelas mulheres e estudada por outros homens mais sensíveis e, digamos, menos jurássicos. Vale lembrar que as mulheres na antiguidade eram consideradas apenas como reprodutoras (para gerar novos filhos homens e guerreiros) ou concubinas (unicamente para o prazer), tendo pouca ou quase nenhuma participação nas decisões sociais.

Dessa forma, muita gente pode ficar impressionada ao descobrir que a maioria dos filósofos gregos escolhiam amantes e parceiros homens para se relacionarem. Era uma escolha sem preconceito ou peso social, já que dividir a cama com um homem era mais "normal" do que dividir a cama com uma mulher, considerada como inferior. Erroneamente, muitos ativistas gays usam desse fato histórico em defesa do seu movimento, já que não exista essa discussão sobre divisão de gênero na época. Não vale mentir para defender nenhuma causa, ok?

O poeta, ensaísta e ativista americano Robert Bly foi um dos primeiros a escrever sobre uma nova educação para os homens jurássicos em geral. Seu João de Ferro: Um Livro Sobre Homens (1990) foi um best-seller americano e mundial mas que dificilmente foi lido pelos homens tupiniquins. Outros que ninguém leu foram O Homem a Procura de Si Mesmo (1953), do psicólogo existencialista Rollo May e Rei, Guerreiro, Mago e Amante (1993), dos terapeutas Robert Morre e Douglas Gillette.

Todos esses livros trazem contribuições valiosas (mesmo que falhas) para construção da identidade masculina mas, opa, homens jurássicos não leem livros e não se interessam por essas "coisas de mulherzinha" como autoestima, autoconhecimento ou analise das próprias emoções. Desafio as mulheres a presentearem seus namorados e maridos. Depois do futebol, é claro. E para quem tem filhos homens, leiam vocês mesmas, essa é a melhor escolha.

PERDIDOS ENTRE DOIS MUNDOS: SENSÍVEL OU FRACOTE?


Os homens deviam ser o que parecem ou, pelo menos, não parecerem o que não são. - William Shakespeare
Jurássicos ou não, os homens e meninos de hoje estão perdidos, muito perdidos. A psique do Homem moderno virou um purê de batatas. Divididos entre seus impulsos biológicos e a demanda urgente por um upgrade muito tardio em sua sensibilidade, o que temos é um retrocesso e uma fuga para "caverna segura" dos modelos antiquados de uma sociedade patriarcal. Isso se você considerar "seguro" manter-se afastado dos conflitos emocionais, das transformações sociais ou qualquer outro movimento que afete esse conservadorismo.

Sendo assim, o homem moderno pode ser considerado um pressuposto de si mesmo: aquilo que se busca alcançar e, ao mesmo tempo, uma mera conjectura de que "deve" vir a ser. E, veja bem, estou falando dos que ainda consideram pensar sobre isso porque a grande maioria vai levando com a barriguinha de chope, como pode.

Entre os estereótipos do cowboy americano ou do  nosso cabra macho brasileiro, a maioria dos homens da classe média pra baixo (entre 16 e 45 anos) ainda sonham mesmo é com pouco trabalho, ganhar dinheiro fácil e dormir com o maior número de mulheres que puder. Algo entre o James Bond e o Neymar. Triste isso, hein?
  
A GUERRA DOS HOMENS JURÁSSICOS

  
Se os homens estivessem satisfeitos consigo mesmos, estariam menos insatisfeitos com as suas mulheres. - Voltaire
Não se engane: homens jurássicos, criam filhos jurássicos. É uma simples transferência de valores. E não pense que isso serve apenas para homens heterossexuais. Pesquisas recentes (leia aqui e aqui) revelam que o comportamento violento masculino também acontece entre casais gays.

Na teoria evolucionista, essa energia de violência ou agressividade masculina seria uma resposta a falta de atividades antigas/rituais como caçar por comida, buscar abrigo, etc que faltariam ao homem moderno para que ele "se sinta homem" e no comando do seu próprio destino. Em outras palavras: poder, controle e liberdade para fazer o que quiser. Acho que você dançou, rapaz!

Uma pesquisa nacional recente, realizada pela ONU Mulheres, pelo site PapodeHomem e viabilizada pelo Grupo Boticário ajudam a entender esse cenário onde prevalece a violência em troca da falta de dialogo com as próprias emoções e sentimentos: 


Atividades como encher a cara, brigas entre torcidas e até mesmo dar em cima de qualquer mulher que aparece seriam os pobres "rituais substitutos" para aliviar essas energias represadas no homem heterossexual. Bom, além de ser ridículo, essas práticas não educam e apenas aumentam a busca pelo controle  e o poder perante outros homens (pela batalha e competição) e outros gêneros (submissão/exploração do feminino e humilhação/agressão do homoafetivo). Como faz?

O QUERIDO DIÁRIO E O ÁLBUM DE FIGURINHAS

  
Eu não preciso de você nem para andar e nem para ser feliz, mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado. E chega! Há anos peço o príncipe e só me mandam o cavalo. - Tati Bernardi
Homens e mulheres são, biologicamente falando, a Humanidade. Eles não são de Marte ou Vênus, não são tão complexos assim como tentamos complicar. Mas precisamos acabar com o Conto de Fadas: nenhum entendimento é possível sem concessões ou escolhas. Vivemos em uma sociedade com a idade mental de um adolescente, que atravessou o privado e transformou tudo em público, publicável e compartilhado.

Curtimos, "lacramos" e "chipamos" os outros enquanto as tristezas emocionais mais profundas permanecem escondidas em frases sarcásticas, homofóbicas, feministas ou machistas. É muita carência escondida, fala a verdade.

Acredito que ainda teremos que pagar o preço de sermos tão individualistas a ponto de mostrar tudo o que não somos. Os homens jurássicos estão tomando porrada mas não vão morrer. Eles serão substituídos por adolescentes sem educação básica, apoio familiar e o entendimento necessário para lidar com um mundo novo, heterogêneo e diversificado. Por quê? Porquê parece que não existe mais ninguém possa educa-los.


Racismo, preconceito, homofobia, ideologias da moda e fanatismo religioso que usam as poderosas ferramentas das mídias sociais para distorcer e tornar conteúdos importantes em conversas superficiais e competitivas numa mesa de bar. Seria esse, o nosso legado?

O tema homem/mulher (não confunda com homem versus mulher) é enorme e, obviamente, não pode ser reduzido a um artigo. As mulheres jurássicas, alias, também existem mas não me sinto qualificado para falar sobre elas. Se alguma leitora desejar escrever sobre isso, o espaço está aberto e disponível.

Este é um artigo sobre Humanidade, onde defendo a ideia do homem como total responsável por suas escolhas de crescimento e transformação, seja ele hétero, homoafetivo ou até mesmo aquele que se descobriu jurássico. E nem de longe é sobre disputa de gênero ou justificativas de comportamento homem/mulher.

Como já disse a Tati Bernardi, "pote é fácil, quero ver um homem abrir o coração". Até a próxima! 

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